Encontro de residentes e instituições de ensino e pesquisa com o biólogo e coordenador da Articulação no Semiárido Pernambucano, Alexandre Pires, ocorreu na sede da UFAPE e ainda em visitas de campo pela zona rural de Garanhuns - Sítio Cruz e Comunidade Quilombola do Castainho; além da troca de experiências encontro serviu para debater com comunidades locais e estudantes questões como emergência climática, preservação dos biomas brasileiros e segurança alimentar.
Como articular as políticas públicas de Agroecologia e segurança hídrica com a saúde, a formação de profissionais da saúde? E como levar a experiência ancestral dos povos e comunidades tradicionais em diálogo com os centros de pesquisa das instituições de ensino? Com estes questionamentos como guia o biólogo e Coordenador da Articulação Semiárido Pernambucano (ASA/PE), Alexandre Pires, visitou Garanhuns na última sexta, 11/3 e conferiu pessoalmente um pouco do que a relação universidade - campo tem construído e pode construir ainda mais nos próximos anos.
“É fundamental que os processos de ensino e aprendizagem, em todos os níveis, levem em conta os modos de vida e saberes das comunidades e povos tradicionais. Pernambuco tem centenas de comunidades rurais, quilombolas e indígenas e não é possível mais pensar no campo, sem entender, valorizar e escutar o que esses sujeitos de direito tem a nos dizer e ensinar”
A visita teve início na Universidade Federal do Agreste Pernambucano, UFAPE, com a palestra "Agroecologia, Políticas Públicas e Desafios para o Desenvolvimento Sustentável". Os professores Luciano Andrade e Ricardo Vigoderis receberam Alexandre e também alunos, extensionistas, sindicalistas e gestores públicos. Entre os temas abordados destacou-se a denúncia de que o programa de cisternas do Governo Federal, ação que a ASA ajudou a fomentar e que vem construindo os equipamentos há mais de 20 anos, está sendo desmontado desde o governo Temer e agora praticamente encerrado por Bolsonaro: após o recorde de 111 mil e 106 mil em 2013 e 2014, respectivamente, ano após ano a construção de cisternas no semiárido vem caindo, até atingir o número pífio de menos de 3 mil em 2021.
“Impossível discutir os desafios par ao desenvolvimento sustentável do Semiárido brasileiro sem falar do Programa Cisternas que transformou a vida de milhares de pessoas, especialmente das mulheres e crianças. O acesso a água potável e Saneamento é o 6 ODS (Objetivo do Desenvolvimento Sustentável) da ONU para ser alcançado em 2030, enquanto isso a política do governo Bolsonaro foi de acabar com o programa, enquanto ainda temos 38 mil famílias em PE e 350 mil no meio rural do Semiárido sem acesso a água.”
Alexandre Pires também cumpriu agenda na zona Rural de Garanhuns, visitando o Sítio Cruz e a Comunidade Quilombola do Castainho. A convite da Residência Multiprofissional Integrada "Saúde Coletiva e Agroecologia", da UPE com a Fiocruz, da qual o Centro Sabiá é parceiro, o coordenador conheceu as práticas agroecológicas das comunidades e refletiu sobre o papel da alimentação e do acesso a água na saúde, prevenção de doenças e resgate da ancestralidade como um contraponto à prevenção de doenças.
No Sítio Cruz o biólogo pôde verificar experiências autônomas de agroecologia, relatos dos pioneiros na agroecologia na região e os déficits de soluções para problemas locais como contaminação das fontes de água por esgoto e falta de locais para armazenar água. Ele também explicou como a alimentação moderna é um veneno para a saúde, fazendo um contraponto entre alimentação e política: o Pacote do Veneno, conjunto de projetos de lei que tramitam na Câmara de Deputados e Senado, pode liberar ainda mais agrotóxicos na alimentação do Brasileiro, além da exploração das terras indígenas e de populações tradicionais, colocando em risco a segurança alimentar do povo brasileiro.
“O Brasil passa pela pandemia da Covid-19, mas tem uma epidemia em curso no pais de obesidade e de câncer. Essas duas últimas estão diretamente relacionadas com a má alimentação. O consumo de alimentos enlatados e empacotados só potencializam ou produzem doenças. É preciso construir a cultura do descascar mais e desembalar menos. Colocar em pratica nossa Politica estadual de Agroecologia e Produção Orgânica, que está engavetada.”
À noite, na Comunidade Quilombola do Castainho, Alexandre novamente refletiu sobre o direito à alimentação e como os povos tradicionais podem usar a força de suas raízes para não se submeter à alimentação contemporânea que em muitos casos adoecem a população com hipertensão e diabetes, sem contar o uso desenfreado de agrotóxicos.
“A agroecologia se constrói principalmente a partir dos conhecimentos das comunidades quilombolas e indígenas. Seus saberes de manejo da biodiversidade, das florestas e dos solos, esses saberes são o que temos de mais moderno numa sociedade ameaçada pela voracidade do capitalismo que gera essa emergência climática que vivemos. É urgente que nosso desenvolvimento esteja pautado pela agroecologia”
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